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Sou

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A dialectica do amo e do escravo

Dois homens lutam entre si. Um deles é pleno de coragem. Aceita arriscar sua vida no combate, mostrando assim que é um homem livre, superior à sua vida. O outro, que não ousa arriscar a vida, é vencido. O vencedor não mata o prisioneiro, ao contrário, conserva-o cuidadosamente como testemunha e espelho de sua vitória. Tal é o escravo, o "servus", aquele que, ao pé da letra, foi conservado.


a) O senhor obriga o escravo, ao passo que ele próprio goza os prazeres da vida. O senhor não cultiva seu jardim, não faz cozer seus alimentos, não acende seu fogo: ele tem o escravo para isso. O senhor não conhece mais os rigores do mundo material, uma vez que interpôs um escravo entre ele e o mundo. O senhor, porque lê o reconhecimento de sua superioridade no olhar submisso de seu escravo, é livre, ao passo que este último se vê despojado dos frutos de seu trabalho, numa situação de submissão absoluta.


b) Entretanto, essa situação vai se transformar dialeticamente porque a posição do senhor abriga uma contradição interna: o senhor só o é em função da existência do escravo, que condiciona a sua. O senhor só o é porque é reconhecido como tal pela consciência do escravo e também porque vive do trabalho desse escravo. Nesse sentido, ele é uma espécie de escravo de seu escravo.


c) De fato, o escravo, que era mais ainda o escravo da vida do que o escravo de seu senhor (foi por medo de morrer que se submeteu), vai encontrar uma nova forma de liberdade. Colocado numa situação infeliz em que só conhece provações, aprende a se afastar de todos os eventos exteriores, a libertar-se de tudo o que o oprime, desenvolvendo uma consciência pessoal. Mas, sobretudo, o escravo incessantemente ocupado com o trabalho, aprende a vencer a natureza ao utilizar as leis da matéria e recupera uma certa forma de liberdade (o domínio da natureza) por intermédio de seu trabalho. Por uma conversão dialética exemplar, o trabalho servil devolve-lhe a liberdade. Desse modo, o escravo, transformado pelas provações e pelo próprio trabalho, ensina a seu senhor a verdadeira liberdade que é o domínio de si mesmo. Assim, a liberdade estóica se apresenta a Hegel como a reconciliação entre o domínio e a servidão.

Hegel desenvolveu uma forma histórica de pensar, segundo a qual, o pensamento não podem ser separados do seu contexto social e histórico. Fora do processo histórico não existem critérios que possam decidir sobre o que é mais ou menos verdadeiro e racional, pois a razão é um processo dinâmico. Dessa forma, pode-se afirmar que a filosofia hegeliana não se volta para o entendimento da natureza mais profunda da existência, mas sim, para um pensamento produtivo, através de um método que visa à compreensão do curso da história. A razão humana é progressiva, ou seja, caminha conforme o progresso da humanidade, acrescentando sempre algo de novo ao que já existe. Um pensamento, geralmente, formula-se a partir de outros anteriores, para ser contradito por outros no futuro. Assim, surgem duas formas opostas de pensar criando uma tensão, que será quebrada com o aparecimento de um terceiro pensamento formulado, sintetizando os pontos positivos dos dois anteriores, dando forma à dialética hegeliana. Se a realidade está impregnada de opostos e contradições, a descrição dessa realidade deve revelar, obrigatoriamente, esses opostos e contradições. 

 

 

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