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Sou

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15 Mai, 2007

Eco e Narciso

 

 

Eco e Narciso

Era uma vez um jovem chamado Narciso, era tão belo que muitas donzelas e jovens homens apaixonaram-se por ele. Mas Narciso não se identificava com as pessoas comuns. Ele acreditava estar acima de todos os outros e friamente rejeitava as admiradoras e admiradores.

Um jovem que tinha sido cruelmente rejeitado, pediu à Deusa da Vingança, Nemesis, que Narciso conhecesse a dor do amor não correspondido. Nemesis acolheu o pedido e aprovou, e então ficou decidido que Narciso conheceria a dor que causava aos outros.

 Deus Júpiter passava o dia a deleitar-se com as Ninfas. Certa vez, quando julgou estar a sua esposa, Juno, a aproximar-se , enviou uma das Ninfas, que tinha o nome de  Eco, para cruzar o caminho de sua esposa a falar-lhe até que Júpiter tivesse tempo de escapar, para não ser apanhado.  Juno entretanto entendeu o que estava a suceder e  ficou zangada. Ela disse a Eco, que o castigo por a ter distraído e assim mentir-lhe, que ela nunca mais falaria, só poderia repetir as últimas palavras ditas por alguém.

Um dia, Narciso estava a caçar com os amigos e acabou por perder-se. Foi ter a uma clareira onde havia um cintilante lago. A ninfa Eco que se tinha refugiado porque não conseguia conversar, encontrava-se sentada próxima ao lago e viu-o, apaixonou-se imediatamente. Narciso então gritou para a clareira, "Há mais alguém aqui?" e Eco respondeu, "Aqui!". "Aparece quero conhecer-te!!", replicou Narciso. Eco alegremente respondeu, " Apareça quero conhecer-te ",e em seguida correu em direcção a Narciso. Mas quando ela tentou abraçá-lo, ele recuou com repugnância e disse-lhe numa linguagem áspera que não queria nada com ela. Entristecida, Eco fugiu para uma caverna onde desejou Narciso até a exaustão, quando, já exaurida, apenas sua voz remanesceu.

Afrodite, já alertada por Nemesis, indignou-se com o desdém de Narciso para com o amor da Ninfa e decidiu puni-lo. Assim, quando Narciso foi novamente ao lago para refrescar-se, debruçou-se sobre as águas resplandecentes e viu um belo jovem sob ele. Ele nunca tinha  visto o seu próprio reflexo, e não fazia ideia que aquele jovem era ele mesmo. Apaixonou-se imediatamente pelo rapaz do lago e pensou ser recíproco o seu sentimento. Assim que ele sorriu, o rapaz também sorriu para ele. Quando ele tentou alcançar o jovem, os braços reflectidos estenderam-se em sua direcção. Mas quando tentou toca-los, as águas ondularam-se e a imagem desapareceu. Ele chorou e lamentou até perceber que se apaixonara por seu próprio reflexo. Mas já era tarde. Ele estava tão profundamente apaixonado que tudo o que podia fazer era ficar onde estava olhado para si mesmo até o esgotamento.·


Exausto, Narciso caiu no lago. Quando ele morreu, muitos ficaram de luto, ninguém tanto quanto Eco, que, agora sendo apenas uma voz na caverna, calorosamente repetia as últimas palavras dos outros. Quando ele finalmente sucumbiu nada remanesceu, apenas uma linda flor branca e ouro.
 


 

Rubem Queiroz Cobra



Um pescador certa vez pescou um salmão. Quando viu seu extraordinário tamanho, exclamou: "Que peixe maravilhoso! Vou levá-lo ao Barão! Ele adora salmão fresco."

O pobre peixe consolou-se, pensando: "Ainda posso ter alguma esperança."

O pescador levou o peixe à propriedade do nobre, e o guarda na entrada perguntou: "O que tem aí?"

"Um salmão", respondeu o pescador, orgulhoso.

"Óptimo", disse o guarda. "O Barão adora salmão fresco."

O peixe deduziu que havia motivos para ter esperança. O pescador entrou no palácio, e embora o peixe mal pudesse respirar, ainda estava optimista. Afinal, o Barão adora salmão, pensou ele.

O peixe foi levado à cozinha, e todos os cozinheiros comentaram o quanto o Barão gostava de salmão. O peixe foi colocado sobre a mesa e quando o Barão entrou, ordenou: "Cortem fora a cauda, a cabeça, e abram o salmão."

Com seu último sopro de vida, o peixe gritou em desespero: "Por que mente? Se realmente gosta de mim, cuide de mim, deixe-me viver. Você não gosta de salmão, gosta de si mesmo!"