Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Sou

Sou

Somos uma multidão de iguais
Semelhantes em sonhos e ilusões
Direcções diversas na conquista
Dos ideais, universais
Não se escreve o nome de um homem
Em tudo o que ele faz
Mas onde ele põe suas mãos
Estão as digitais.

Não importa qual a cor do homem
Como ele se veste, de onde vem
de dentro de um castelo ou de um barraco
Ele é alguém com o que tem.

É guerreiro nessa disputa
E onde ele estiver
O respeito pela sua luta
É tudo o que ele quer.

Debaixo desse céu
Sob a luz do mesmo sol
Todo mundo é alguém.

Quem é quem? 
Quem é quem?
Nesse mundo todo mundo é alguém.

Da semente ao trigo quantos são 
Pra fazer chegar à mesa o pão?
Do barro até o topo de um arranha-céus

Quantos estão nessa missão?

Todo o ser humano é importante
Naquilo que ele faz
Às vezes por caminhos distantes
Mas todos são iguais

Por isso
Quem é quem
Se aos olhos de Deus
Todo mundo é alguém?

Quem é quem? Quem é quem?

Nesse mundo todo o mundo é alguém! 

adaptação de composição: Roberto Carlos

 

 

Fotografia de: Eddie Adams

 

Sei que ninguém vai me tirar, a alegria de viver.
Pode tudo acontecer,
Nada me fará afastar da esperança.

Por tantas provas já passei,
Quantas lágrimas chorei,
Por um mundo que não sei compreender.
Com meus olhos de criança.

Mas hoje eu sei, que só através do amor,
O homem pode se encontrar,
Com a perfeição dos sábios.
Uma ambição maior, mais do que pode supor.
O império da razão.

Toda vã filosofia.

Por isso insisto em cultivar,
Os meus sonhos, a minha fé.
Esteja onde eu estiver, creio em você.
Eu estou em segurança.

adaptação de: letra de música de Roberto Carlos

24 Out, 2007

Krishnamurti

A ALEGRIA DE VIVER

Já alguma vez refletiste porque muitas pessoas, ao se tornarem mais velhas, parecem perder toda a alegria de viver? No momento, a maioria de vós, que sois jovens, é relativamente feliz; tendes os vossos pequenos problemas, as vossas preocupações sobre os exames, mas, apesar dessas perturbações, há, em vossa vida, uma verdade? Há uma espontânea e natural aceitação da vida, uma visão das coisas despreocupada e feliz.

Mas, por que razão, ao nos tornarmos mais velhos, parecemos perder aquele ditoso pressentimento de algo transcendental, algo de mais significativo? Por que tantos de nós, ao alcançarmos a chamada maturidade, nos tornamos embotados, insensíveis à alegria, à beleza, ao céu sereno e às maravilhas da terra?

 

Quando urna pessoa faz a si própria esta pergunta, muitas explicações acodem-lhe ao espírito. Temos muito interesse em nós próprios . Lutamos para nos tornarmos alguém, para alcançarmos e conservarmos uma certa posição; temos filhos e outras responsabilidades, e termos de ganhar dinheiro. Todas essas coisas que se agitam no nosso interior não tardam a deprimir-nos, e perdemos assim a alegria de viver. Vede os rostos dos mais velhos, do vosso círculo de conhecimentos, tão tristes que são, na sua  maioria,  gastos, adoentados, reservados, alheados, não raro neuróticos, sem um sorriso. Não perguntais a vós mesmos por que são assim?

 

 

E mesmo quando indagamos o porquê disso, a maioria de nós parece satisfazer-se com meras explicações.

 

 

 

Ontem de tarde vi um barco que subia o rio, de velas pandas, impelido pelo vento oeste. Era um barco grande e transportava pesada carga de lenha destinada à cidade. O sol  punha-se e a embarcação, desenhada contra o céu, mostrava uma singular beleza. O barqueiro só tinha de guiá-la; nenhum esforço era necessário, pois o vento fazia todo o trabalho. Analogamente, se cada um de nós compreendesse o problema da luta e do conflito, penso que poderíamos viver sem esforço, felizes, de rosto sorridente.

Para mim, é o esforço que nos destrói, esse lutar em que despendemos quase todos os momentos de nossa vida, Se observardes, ao redor de vós, as pessoas mais velhas, podereis ver que para quase todos a vida é uma série de batalhas consigo mesmos, com as suas mulheres ou maridos, com seu próximo, com a sociedade; e essa luta incessante dissipa energia.

 

O ser humano que vive alegre, verdadeiramente feliz, está livre de todo esforço. Viver sem esforço não significa tornar-se estagnado, embotado, estúpido; ao contrário, só os homens sensatos, altamente inteligentes, estão verdadeiramente livres do esforço e da luta.

 

Mas, quando ouvimos falar em viver sem esforço, queremos viver assim, desejamos alcançar um estado em que não haja luta nem conflito; tornamo-lo, pois, esse estado, nosso alvo, nosso ideal, e por ele lutamos; e desde esse momento perdemos a alegria de viver.

 

Estamos de novo empenhados em esforço, luta. O objecto da luta varia, mas toda a luta é essencialmente a mesma. Um luta pela promoção de reformas sociais, ou para achar Deus, ou para criar melhores relações no lar ou com o próximo; outro senta-se à margem do Ganges ou  prostra-se devotamente aos pés de um guru - etc. etc. Tudo isso representa esforço, luta. O importante, por conseguinte, não é o objecto da luta, porém, sim, compreender a própria luta.

 

Ora, é possível a mente não apenas perceber ocasionalmente que não está a lutar, porém estar a todas as horas completamente livre de esforço, de modo que possa descobrir um estado de alegria em que não haja nenhuma idéia de superioridade e inferioridade?

 

O caso é que a mente se sente inferior e por esta razão luta para "vir a ser" alguma coisa, ou conciliar seus vários desejos contraditórios. Mas, não estejamos a dar explicações sobre por que a mente tanto luta. Todo homem que pensa sabe por que há luta, interior e exteriormente. 

 

A nossa inveja, avidez, ambição, o nosso espírito de competição, que nos impele à mais impiedosa eficiência - são obviamente estes os factores que nos fazem lutar, no mundo actual ou no mundo do futuro. Para tanto, não temos necessidade de estudar livros de psicologia para sabermos por que lutamos; e o que certamente, tem importância é que descubramos se a mente pode ficar totalmente livre de luta.

 

Afinal de contas, quando lutamos, o conflito é entre o que somos e o que deveríamos ou desejamos ser.

 

Pois bem; sem se procurarem explicações, pode-se compreender todo esse processo de luta, de modo que ele termine?

Como aquele barco levado pelo vento, pode a mente existir sem luta?

 

A questão é esta, sem dúvida, é não como alcançar um estado em que não haja luta. O próprio esforço para alcançar tal estado é, em si, um processo de luta e, por conseguinte, aquele estado nunca pode ser alcançado. Mas, se observardes, momento por momento, como a mente se deixa colher nesse torvelinho de incessante luta - se observardes simplesmente o facto, sem tentar alterá-lo, sem impor à mente um certo estado que chamais "de paz" - vereis que, espontaneamente, a mente deixará de lutar; e nesse estado ela é capaz de aprender infinitamente.

 

Aprender já não é, então, mero processo de acumular conhecimentos, porém de descobertas, de extraordinárias riquezas existentes além do alcance da mente; e para a mente que faz tal descobrimento, há grande alegria.

 

Observai a vós mesmo, para verdes como lutais da manhã à noite, e como vossa energia se dissipa nessa luta. Se tratardes apenas de explicar por que lutais, ficareis perdido numa floresta de explicações e a luta prosseguirá;

 

mas se, ao contrário, observardes vossa mente, com serenidade e sem dardes explicações; se deixardes simplesmente que vossa mente esteja cônscia de sua própria luta, vereis que muito depressa surgirá um estado no qual nenhuma luta haverá, um estado de extraordinária vigilância.

 

Nessa vigilância, não há idéia de "superior" e "inferior", não há homem importante nem homem insignificante, não há guru. Todos esses absurdos desapareceram, por que a mente está inteiramente desperta; e a mente de todo desperta está cheia de alegria...

 

...Afinal de contas, que é "contentamento" e o que é "descontentamento"? "Descontentamento" é a luta pela consecução de mais, e o "contentamento" a cessação dessa luta; mas, não se chega ao contentamento, se se não compreende todo o "processo" relativo ao mais, e por que razão a mente o exige.

 

 

Se sois mal sucedido num exame, por exemplo, tereis de repeti-lo, não é verdade? Os exames, em qualquer circunstância, são uma coisa sumamente deplorável, porquanto nada representam de significativo, já que não revelaria o verdadeiro valor de vossa inteligência. Passar num exame é, em grande parte, um "golpe" de memória ou, também, de sorte; mas, vós lutais para passardes em vossos exames e, quando sois mal sucedidos, perseverais nessa luta. O mesmo "processo" se verifica diariamente, na vida da maioria de nós.

 

Estamos lutando por alguma coisa e nunca nos detivemos para investigar se essa coisa é digna de lutarmos por ela.

 

Nunca perguntamos a nós mesmos se ela merece nossos esforços e, portanto, ainda não descobrimos que não os merece e que devemos contrariar a opinião de nossos pais, da sociedade, de todos os mestres e gurus.

 

É só quando temos compreendido inteiramente o significado do mais, que deixamos de pensar em termos de fracasso e de êxito.

 

Temos sempre medo de falhar, de cometer erros, não só nos exames, mas também na vida. Cometer um erro é coisa terrível, porque seremos criticados, censurados, por causa dele. Mas, afinal, por que não se devem cometer erros? Toda gente, neste mundo, não vive cometendo erros? E o mundo sairia da horrível confusão em que se encontra, se vós e eu nunca cometêssemos um erro?

 

Se tendes medo de cometer erros, nunca aprendereis coisa alguma. Os mais velhos estão continuamente cometendo erros, mas não querem que vós os cometais e, com isso vos sufocam toda a iniciativa. Por quê?

 

Porque temem que, pelo observar e investigar todas as coisas, pelo experimentar e errar, acabeis descobrindo algo por vós mesmo e trateis de emancipar-vos da autoridade de vossos pais, da sociedade, da tradição.

 

É por essa razão que vos acenam com o ideal do êxito; e o êxito, como deveis ter notado, sempre se traduz em termos de respeitabilidade. O próprio santo, em seus progressos para a chamada perfeição espiritual, tem de tornar-se respeitável, porque, do contrário, não encontrará "aceitação", não terá seguidores.

 

Estamos, pois, sempre pensando em termos de êxito, em termos de mais; e o mais é encarecido pela sociedade respeitável. Por outras palavras, a sociedade estabeleceu, com todo o esmero, um certo padrão, pelo qual mede o vosso sucesso ou o vosso insucesso.

 

Mas, se amais uma coisa e a fazeis com todo o vosso ser, então já não vos importa o êxito nem o fracasso. Nenhum homem inteligente se importa com isso. Mas, infelizmente, são raros os homens inteligentes, e ninguém vos aponta essas coisas. Tudo o que importa ao homem inteligente é perceber os factos e compreender o problema - e isso não significa pensar em termos de êxito ou de fracasso. Só quando não amamos o que fazemos, pensamos nesses termos.

Krishnamurti

http://www.cuidardoser.com.br/coletanea-krishnamurti.htm

24 Out, 2007

Nuvem passageira

Eu sou nuvem passageira,
Que com o vento se vai,
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai.

Não adianta escrever meu nome n’uma pedra,
Pois essa pedra em pó vai se transformar,
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar.

(Ar, Ar)

Eu sou nuvem passageira,
Que com o vento se vai,
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai.

A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito,
E a namorada analisada por sobre o divã.

(Ar, Ar, Ar) (Ar, Ar,Ar)

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer ou me matar
Eu vou deixar um dia a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar

Eu sou nuvem passageira,
Que com o vento se vai,
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai.

Eu sou nuvem passageira,
Que com o vento se vai,
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai.

Que se quebra quando cai (3x)
 

Não me mostres o teu lado feliz
A luz do teu rosto quando sorris
Faz-me crer que tudo em ti é risonho
Como se viesses do fundo de um sonho

Não me abras assim o teu mundo
O teu lado solar só dura um segundo
Não é por ele que te quero amar
Embora seja ele que me esteja a enganar

Toda a alma tem uma face negra
Nem eu nem tu fugimos à regra
Tiremos à expressão todo o dramatismo
Por ser para ti eu uso um eufemismo
Chamemos-lhe apenas o lado lunar
Mostra-me o teu lado lunar

Eu vejo o verde das árvores, rosas vermelhas também
Eu vejo florescer para nós dois
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso

Eu vejo o azul dos céus e o branco das nuvens
O brilho do dia abençoado, a sagrada noite escura
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso

As cores do arco-íris, tão bonitas nos céus
E estão também nos rostos das pessoas que passam
Vejo amigos apertando as mãos, dizendo: "como está(s)?"
Eles realmente dizem: "eu gosto de ti!"
Eu ouço bebés chorando, eu vejo-os crescer
Eles aprenderão muito mais que eu jamais saberei
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso
Sim, eu penso comigo... que mundo maravilhoso

 

Louis Armstrong (tradução em português)

20 Out, 2007

Roda viva

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo ...

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo...

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo ...


 

Chico Buarque

Pág. 1/3