O adeus do amante - Gibran Khalil Gibran
Perdoa-me pelas desilusões que te causei.
E agradece-me pelos sonhos que despertei em ti; pois as desilusões não brotam senão onde antes floresciam os sonhos. Como no tempo se alternam os dias e as noites, alternam-se na vida os bons e os maus momentos. E, assim, nada é o que parece ser. Pois mesmo na tristeza da despedida existe uma oculta alegria, que é a esperança do reencontro. E é no amargor da saudade que se oculta a doçura das lembranças.
Se em todo caso de amor existe alguém que mais ama, a esse será reservado o quinhão maior do sofrimento da separação. E é justo que assim seja, por lhe ter cabido a porção maior de felicidade.
Parte, se assim o desejas. Pois nada me tomas, senão aquilo que me deste; e, por isto, de direito te pertence. Deixa, apenas, que eu te olhe mais uma vez.
Para que a tua imagem se entrone no altar da minha saudade. Pois não são os teus olhos que pretendo guardar, mas a luz do teu olhar.
Assim como não são os teus lábios que desejo reter, mas o sabor dos teus beijos.
E não é do teu corpo que preciso, mas do calor do teu amor. Pois o amor não é como a paixão, que se nutre do que se pode ver, mas como a religião, que se alimenta do que se pode sentir. E, acredita, não pedirei para que fiques. Pois não é o amor que se humilha, mas o egoísmo. E não é a saudade que é insuportável, mas a frustração.
Conforta-me o saber que não nos deixamos por desamor, mas por não entendermos o Amor. E, de fato, como poderíamos reconhecer aquele que, dantes, jamais havia andado pelos nossos caminhos?
Assim como a esperança não é mais que o desengano antes do seu nascimento, o desengano é apenas o prólogo de uma nova esperança. E o nosso conhecimento é a soma das nossas esperanças e dos nossos desenganos.
Sigamos, pois; e, seguindo, conservemos as lembranças do que houve entre nós.
Para que, mais sábios e menos egoístas, saibamos reconhecer a face do Amor, e conservá-lo em nossa companhia.
Se voltarmos a encontrá-lo em nossos caminhos.
Gibran Khalil Gibran