Montaigne
“Nem sempre se deve dizer tudo, pois seria tolice; mas o que se diz, é preciso que seja tal como pensamos, senão é maldade.”
Filósofo francês (n. castelo de Montaigne, no Périgord, 1533 - m. ibid., 1592). Seu pai, Pierre Eyquem, homem de cultura, era descendente de família vinda de Portugal, onde fizera fortuna com o comércio de peixe. Sua mãe, Antoinette de Loppes, ou Louppes, era de cepa israelita e seus ascendentes tinham vindo de Portugal, fugindo a perseguições. Não elaborou uma filosofia em sentido estrito, ou seja, uma construção mental, rigorosamente fundamentada, constituindo um sistema. A meditação de M. processa-se em sereno colóquio consigo mesmo. Os Essais denomina-os um livro de boa fé, que não se pode elogiar nem censurar em si mesmo: o autor encontra-se ligado estritamente ao livro. Do pensamento da antiguidade, os cépticos e os estóicos impressionaram-no fortemente. Por outro lado, é testemunho da transformação do saber e pergunta a si mesmo se a nova ciência, que se está elaborando e invalidando a tradicional, não virá a ser ultrapassada por uma nova que a destrua. As grandes descobertas geográficas revelam povos e costumes diversos, mas nessa diversidade parece haver algumas crenças muito semelhantes às das nações cristãs. É crível que haja algumas leis imutáveis, mas estão perdidas para o homem, que apenas vive no reino do relativo. Este cepticismo, porém, é temperado pela sua fé católica. Admite que, para Deus, haja verdade. Simplesmente, a razão divina e a razão humana apenas têm de comum um nome. Abstraindo do ponto de vista da religião, considerando apenas "o homem, sem socorro alheio, armado unicamente com as suas armas e desprovido da graça e conhecimento divinos, que é toda a sua força e o fundamento do seu ser", começa por descrever o nada do orgulho humano, a pretensa superioridade sobre os animais; o nada da ciência, pois esta não nos torna nem mais felizes nem melhores; o nada da razão humana e dos sentidos, como faculdades do conhecimento, concluindo que "nós e o nosso conhecimento e todas as coisas naturais vão fluindo e rolando imparavelmente". Salvo Deus, que só pela graça divina nos é revelado, "nada há que verdadeiramente seja".
A vida humana aspira à felicidade, mas o grande obstáculo é a morte. Como poderá o homem ser feliz, sabendo que vai morrer? A filosofia vai ser para M. um meditare mortem, não negador da vida, mas admirando-se, a cada momento, do dom da existência, cheio de reconhecimento por essa dádiva divina.
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