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Sou

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Era uma vez um reino antigo e pobre, situado perto de uma grande montanha.

Havia uma lenda de que, no alto dessa montanha havia uma Macieira mágica, que produzia maçãs de ouro. Para colher as maçãs era preciso chegar até lá, enfrentando todas as situações que aparecessem no caminho. Nunca ninguém havia conseguido essa façanha, conforme dizia a lenda.

O Rei do lugar resolveu oferecer um grande prémio àquele que se dispusesse a fazer essa viagem e que conseguisse trazer as maçãs,pois assim o reino estaria a salvo da pobreza e das dificuldades que o povo enfrentava. O prêmio seria da escolha do vencedor e incluía a mão da princesa em casamento, se ambos se gostassem.

Apareceram três valorosos e corajosos cavaleiros dispostos a essa aventura tão difícil.

Eles deveriam seguir separados e, por coincidência, havia três caminhos:

O primeiro era rápido e fácil,não havia nenhum obstáculo e nenhuma, o segundo era rápido mas com algumas dificuldades a serem enfrentadas, o terceiro caminho era longo,e com um grau de dificuldade muito elevado.
Foi efectuado um sorteio para ver quem seria o cavaleiro a escolher entre os tres caminhos. O cavaleiro sorteado escolheu, naturalmente, o Primeiro caminho. O segundo sorteado escolheu o Segundo caminho. O
terceiro sorteado, sem nenhuma outra opção, aceitou o Terceiro
caminho.

Partiram juntos,levando consigo apenas uma mochila contendo alimentos, agasalhos e algumas ferramentas.

O Primeiro, com muita facilidade chegou rapidamente até a montanha,subiu, feliz por acreditar que seria o vencedor e quando se deparou com a Macieira Encantada sorriu de felicidade. O que ele não esperava, porém, é que ela fosse tão inatingível. Como chegar até às maçãs? Elas estavam em galhos muito altos. Não havia como subir. O
tronco era muito alto também. Ele não possuía nenhum meio de chegar até lá em cima. Sem saber como resolver esse assunto ficou á espera que chegasse o outro cavaleiro que tinha sido sorteado,para resolverem juntos a questão. Quando este último chegou,  enfrentou galhardamente a primeira situação com a qual se deparou, porém logo em seguida apareceu outra, e logo depois mais uma e mais outra, sendo algumas delas um tanto difíceis de superar.
Ele acabou ficando cansado, esgotado até ficar doente, e cair prostrado. Quando se deu conta do seu péssimo estado físico, foi obrigado a retroceder e voltou para a aldeia, onde foi internado
para cuidados médicos.
O Terceiro cavaleiro, a quem tinha calhado o caminho mais dificil, teve o seu primeiro teste quando acabou a água e ele chegou a um poço. Quando puxou o balde, arrebentou a corda e ele então, rapidamente, com as suas ferramentas e alguns galhos, improvisou uma escada para descer e recolher a água que precisava para saciar a sede.
Percebeu que estava começando a gostar muito dessa aventura.

Depois de descansar, seguiu viagem e precisou atravessar um rio com uma correnteza fortíssima. Construiu, então, uma pequena jangada e com uma vara de bambu como apoio, conseguiu chegar do outro lado do rio, protegendo assim a  mochila, os seus agasalhos e todo o material que levava consigo para o momento que precisasse deles, incluindo a
jangada.

Num outro ponto do caminho ele teve de cortar o mato denso e passar por cima de grossos troncos. Com esses troncos ele fez rodas para facilitar o transporte do seu material, usando também a corda para puxar.E assim, sucessivamente, a cada nova situação que surgia, como ele não tinha pressa, calmamente, fazendo uso de tudo o que estava aprendendo nessa viagem e do material que, prudentemente guardara,resolvia facilmente a questão.

A viagem foi longa, cheia de situações diferentes, de detalhes, e logo chegou o momento esperado, quando ele se defrontou com a Macieira Encantada. O Primeiro cavaleiro cansado de esperar, voltou ao povoado.

O encanto da Macieira tomou conta do Terceiro. Ela era tão linda,grande, alta, brilhante. Os raios do sol incidindo nos frutos dourados irradiavam uma luz imensa que o deixou extasiado. Quanto mais olhava para a luz dourada, mais ele se sentia invadir por ela,e percebeu que todo o seu corpo parecia estar também dourado. Nesse
momento ele sentiu como se uma onda de sabedoria tomasse conta de seu ser. Com essa sensação maravilhosa ele se deixou ficar,inebriado, durante longo tempo. Depois do impacto pôs-se a trabalhar e preparou cuidadosamente, o seu material, fazendo uso de todos os seus recursos. Transformou a jangada numa grande cesta,para guardar as maçãs dentro, subiu à árvore, pela escada, usou o bambu para empurrar as maçãs mais altas e mais distantes. Tudo isso
e mais algumas providências que sua criatividade lhe sugeriu para facilitar seu trabalho, que havia se transformado em prazer.

Depois de encher a cesta com as maçãs, e com a certeza de que poderia voltar ali quando quisesse, por ser a Macieira pródiga, ele agradeceu a Deus por ter chegado, por ter conseguido concluir seu objectivo. Agradeceu principalmente a si mesmo pela coragem e persistência na utilização de todos os seus recursos, como
inteligência e criatividade.

Voltou pelo caminho mais fácil, levando consigo os frutos do seu trabalho e dos seus esforços, frutos esses colhidos com muita competência e merecimento. Descobriu, entre outras coisas que:tudo que apareceu em seu caminho foi útil e importante para a sua vitória;cada uma das situações que ele resolveu, foi de grande aprendizado, não só para aquele momento, mas também para vários outros na sua vida futura.

 


 

Há muito, muito tempo, num reino distante , havia um lugar conhecido como a casa dos mil espelhos. Um pequeno e feliz cãozinho soube desse lugar e decidiu ir visitá-lo. Quando lá chegou, saltitou feliz pela escada acima até a entrada da casa. Olhou através da porta de entrada com suas orelhinhas bem levantadas e a cauda balançando rapidamente de um lado para o outro.

Para sua grande surpresa, deparou com outros mil pequenos e felizes cãezinhos, todos com a cauda rápidamente  balançando de um lado para o outro. Abriu um enorme sorriso e foi correspondido com mil enormes sorrisos. Quando saiu da casa, pensou: “Que lugar maravilhoso! Voltarei sempre que puder aqui.”

Nesse mesmo reino, outro pequeno cãozinho, que não era tão feliz quanto o primeiro, decidiu ir visitar a casa dos espelhos. Subiu lentamente as escadas e olhou através da porta.

Quando viu mil olhares hostis de cães que o olhavam fixamente, assustou-se e rosnou, mostrou os dentes e ficou horrorizado ao ver mil cães rosnando e mostrando os dentes para ele. Quando saiu, pensou: “Que lugar horrível, nunca mais volto aqui.”


 

                

 


Medusa era um ser terrível, embora seja um monstro, é considerada pelos gregos uma das divindades primordiais pertencente à geração pré - olímpica. Só depois é tida como vítima da vingança de uma deusa. Das  três górgonas, é a única que é mortal. Três irmãs monstruosas que possuíam cabeça com cabelos em forma de serpentes venenosas, presas de javali, mãos de bronze e asas de ouro. O olhar delas  transformava em pedra aqueles que a fitavam. Como as suas irmãs, Medusa representava as perversões. Euríale, simbolizava o instinto sexual pervertido, Ésteno a perversão social e Medusa a pulsão evolutiva, ou seja, a necessidade de crescer e evoluir estagnada. Medusa também é símbolo da mulher rejeitada, e por ter sido  rejeitada é incapaz de amar e ser amada, odeia os homens nas figura do deus que a viola e abandona  as mulheres, pelo fato de ter deixado de ser uma mulher bela para ser monstro por culpa de um homem e de uma deusa. Medusa é a própria infelicidade; os seus filhos não são humanos, nem deuses, são monstros. Medusa é uma górgona, apavorante, terrível.

 

O mito de Medusa tem várias versões, mas os pontos principais refletem estas características acima. Como Midas ela não pode facilitar a proximidade, pois se Midas  transformava tudo em ouro com apenas um toque, ela é mais solitária mais trágica, não pode sequer olhar, pois tudo o que olha vira pedra, Medusa carrega a maldição de tirar a vida, o movimento, com um simples olhar, também não pode ser vista de frente, não se pode ter idéia de como ela é sem ficar paralisado e morrer.

 

Diz o mito que outrora a Medusa fora uma belíssima donzela, orgulhosa da sua beleza, principalmente dos seus cabelos.Confiante da sua beleza  resolveu disputar o amor de Zeus com Minerva. Esta enraivecida transformou-a num monstro com cabelos de serpente. Outra versão diz que Zeus a teria raptado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a tinha traído, não perdoou tal ofensa. Medusa é morta por Perseu, que também foi rejeitado e com sua mãe Danae são trancados numa arca e atirado ao mar, de onde foi resgatado por um pescador que o levou ao rei Polidectes que o criou com sabedoria e bondade. Quando Perseu ficou homem, Polidectes enviou-o para a trágica missão de destruir a Medusa. Para isto receberia o auxílio dos deuses. Perseu usando sandálias aladas pôde pairar sobre as górgonas que dormiam, então usando um escudo mágico de metal polido, refletiu a imagem da Medusa como num espelho e decapitou-a com a espada de Hermes. Do pescoço ensanguentado de Medusa saíram dois seres que foram gerados do conúbio com Poseidon. O gigante Crisaor e o cavalo Pégaso.

O sangue que escorreu de Medusa foi recolhido por Perseu. Da veia esquerda saia um poderoso veneno, da veia direita um remédio capaz de ressuscitar os mortos. Ironicamente, trazia dentro de si o remédio da vida, mas não o sabia usar, sempre usou o veneno da morte.

 

" Três irmãs, três monstros, a cabeça aureolada de serpentes venenosas, presas de javalis, mãos de bronze asas de ouro: Medusa, Ésteno e Euríale. São símbolos do inimigo e  têm que se combater. São as deformações monstruosas da psique, consoante Chevalier e Gheebrant ( Dictionnaire des Symboles, Paris Robert Laffont, Júpiter, 1982)  que se devem a  forças pervertidas das três pulsões do ser humano: sociabilidade, sexualidade, espiritualidade" .(Brandão, ed. Vozes 1987).

 

Tenho observado em pacientes em terapia, alguns processos que remetem ao mito de Medusa. Estes relatam um sofrimento imenso devido a dificuldades em perceber a própria imagem. Quem sou eu? A grande pergunta para qual toda a humanidade busca respostas. Para estas pessoas, como se tivessem uma imagem invertida refletida no espelho, a pergunta é, o que eu não sou. Incapazes de mostrar uma imagem positiva, como os filhos monstros de Medusa, erram pela vida alinhando possibilidades para construir a sua monstruosidade. Estes filhos de Medusa, embora filhos de um deus, herdam da mãe a figura monstruosa a que se viu presa a bela Medusa. A duplicidade da Mãe  acompanha-os. Pégaso unido ao homem é o Centauro, monstro identificado com os instintos animalescos. Mas tambem é fonte, como o seu nome simboliza,  é alado , é fonte de da imaginação criadora sublimada e a sua elevação. Temos em Pégaso os dois sentidos ,a fonte e as asas. Símbolo da inspiração poética representa a fecundidade e a criatividade espiritual.

Pégaso talvez represente o lado belo de Medusa, que ficou escondido, que não podia ser visto, pois como vimos ela representava a pulsão espiritual estagnada. Pégaso é a espiritualidade em movimento. Crisaor é apenas um monstro, pai de outros monstros Gerião de três cabeças e Équidna. Équidina herda da avó o destino trágico. O seu corpo metade mulher, de lindas faces e belos olhos, tem na outra metade uma enorme serpente malhada, cruel . É a bela mulher de gênio violento. Incapaz de amar e devoradora de homens. Uma reedição de Medusa. Continuará a saga ancestral de odiar os homens e gerar monstros.

 

Com uma imagem distorcida, como dizíamos anteriormente, estes "filhos de Medusa" não podem ver-se a si mesmos como são, e sempre se imaginam bem piores até mesmo do que poderiam ser.

 

Alguns autores como Melanie Klein e Alexander Lowen falam que a imagem de si própria  origina-se no olhar da mãe. A forma como a criança é olhada, é vista, o que ela percebe de rejeição ou aprovação é captado no olhar da mãe. Os tristes filhos de Medusa não podem vê-la, tambem não podem ser vistos por ela. Esta mãe de mãos de bronze não pode acariciar, o seu olhar paralisa, seus os dentes de javali impedem que beije, mas quando poderia ser atingida pelo filho ela se torna divina, tem asas de ouro, é um alvo móvel. Medusa incorpora para estas personalidades de estrutura depressiva o mito da mãe divina, vista pelo seu filho como a santa mãe, ela não gera filhos felizes, apenas trágicos. Não pode ser mulher, é santa. A princípio como Jocasta, depositária da paixão do filho, Medusa não o ama, fazendo-o sentir-se torpe e culpado pelo seu amor incestuoso. Como recurso ele a santifica para continuar amando-a e justificando a sua rejeição como forma de protege-lo da sua própria torpeza. Desprovida como santa de instinto sexual, não pode falar ao seu filho da sexualidade feminina, não pode dizer-lhe o que é uma mulher. Inacessível como santa, ela torna-se monstro. Monstro que é percebido pelo filho mas que se nega a ser visto como é. Medusa não olha, não acaricia, não orienta. Paralisa. Não é por acaso que o sentimento da depressão é a inércia, a perda da vitalidade. Como se tivessem transformados em pedra pelo olhar da mãe, os filhos de Medusa erram pela vida sem espelhos que traduzam a sua imagem. São monstros cuja criatividade afogada na pedra de suas almas precisa ser libertada. Precisam encontrar um espelho  que lhes diga quem são ou pelo menos, quem não podem ser.

 

No trabalho terapêutico de pacientes com depressão, tenho observado que há uma enorme dificuldade em perceber a figura materna. Ela é idealizada a partir de perfis culturais que parecem não poder ser questionados. Frases como: "qual a mãe que não ama seus filhos?" ou "toda mãe é uma santa" traduzem a situação que impede a visão do real. São pessoas desprovidas de afeto, mas com uma enorme necessidade de carinho, que no entanto não suportam proximidade, de uma vez que não confiam em ninguém, pois não acreditam que podem ser amados. Sentem-se como  monstros. Algum tempo  mais adiante no processo chegam a perceber nitidamente que não foram amados, mas como se esquivando de perceber a profundidade dessa dor negam afirmando que isto é normal, diante da sua torpeza. Falam de mães ocupadas, falam de mães vaidosas ressentidas da perda da beleza com o nascimento do filho. Mas essas referências são quase superficiais.

 

Quando conseguem aproximar-se da visão real dessa mãe de garras e mãos de bronze os sintomas  multiplicam-se, aumenta a depressão e com esta a paralisia, a inércia. Podem passar vários dias deitados, sem trabalhar ou realizar um mínimo de esforço. Ver a Medusa é petrificar-se. Muitos desenvolvem sintomas de dor de cabeça, medo de doenças fatais como câncer, AIDS (doenças ligadas a amputação, decapitação, ao sangue, a sexualidade e sintomas de castração). As fantasias de autopunição  multiplicam-se, relatam possibilidades de acidentes de automóvel ou com armas de fogo. Têm fantasias de traição com amigos ou companheiras. São pessoas trágicas. Todos relatam uma ausência de alegria, mesmo quando estão em ambientes alegres. Uma profunda inveja do prazer do outro assola-os. Muitos perseguem a fantasia de resolver a falta com postos de poder e dinheiro. Aumenta a dor. O poder que tanto ansiaram ou o dinheiro que tudo resolveria aumentam a profundidade do abismo. Ter tudo e não sentir-se nada é muito mais terrível. O abismo abre-se cada vez mais como as entranhas da mãe monstruosa. Restam- lhesas fantasias suicidas. É preferível morrer a sentir-se um monstro. Muitos realizam esta fantasia como a ultima tentativa de atingir a Medusa. Mas ela nada sentirá, o seu ódio pelo homem que a violou transmite-se ao filho que gerou. A sua pior inimiga, Minerva ( a deusa da inteligência), deixa-lhe como legado o ódio às mulheres. Não pode dizer ao filho como lidar com elas, como gerar com elas novos filhos, amados e sadios. A sua descendência, embora não precise ser, deverá ser de monstros gerando outros monstros. Fala-se da hereditariedade da depressão. Penso que se houver é muito mais transmitida em gestos e pelo ambiente trágico e desprovido de prazer em que estas novas crianças nascerão. Os filhos de Medusa não podem ter mulheres amorosas, isto a denunciaria. Raramente, quando encontram estas mulheres não podem confiar nelas e abortam assim a possibilidade de obter o amor que os revitalizaria.

 

Mas, apesar das dificuldades e das fantasias autopunitivas, Medusa pode ser vista. Através do espelho do terapeuta e deste como espelho, a figura de medusa pode ser vista. Se a relação terapêutica se dá de forma transferencial, amorosa, confiante, o espelho refletirá imagem da Medusa, como ela é. Incapaz de amar, cruel e terrível, górgona, apavorante. Como resultado o filho descobrirá que o monstro é ela, e não ele. Da morte dela resulta a sua vida, e como Pégaso, ele ganha os céus, liberto, simbolizando a vitória da inteligência e a sua união com a espiritualidade, a sensibilidade que sempre existiu naquele que se julgava o monstro. Como Pégaso, se não se aferrar ao seu aspecto de humano comum, em revoltas descabidas e em vinganças inúteis poderá compreender a tragédia de Medusa e perdoá-la. Não se transformará no monstro Centauro, identificado com o instintos animalescos e a sexualidade desregrada. Se incorporar Centauro errará pela vida sem pertencer a ninguém. Homem de muitas mulheres, mas sem nenhuma. Será monstro preso à sua mãe monstruosa. Incapaz de amar como ela. Se assumir a sua condição de Pégaso, será fonte de todas as belezas, da mais pura elevação, da criatividade, da fidelidade. Não é por acaso que Pégaso simboliza a Poesia.

 

As filhas de Medusa também apresentam como ela a impossibilidade de ser amada. São mulheres tristes de trágica figura, mesmo quando belas. Condenadas a serem crianças eternas presas às entranhas da mãe, não podem deixar de ser filhas-monstro, a não ser para poderem ser mães- monstro. Filhas da violação e do abandono (é assim que Medusa lhes transmite a sua relação com os homens) são mulheres-meninas, incapazes de perceber o homem a não ser como brinquedo, ou como fonte de sofrimento. Unem-se quase sempre a homens cruéis que possam justificar a idéia da mãe, da impossibilidade de ser feliz com um homem. Quando raramente encontram o amor, destroem-no destruindo o homem amado, como faz no mito Équidna, legítima herdeira de Medusa. Mulheres de amores infelizes, herdam de Medusa as garras, as mãos de bronze, e as asas de ouro. Vítimas de novos abandonos reforçam em cada experiência infeliz a ideia da mãe. Também possuem o olhar terrível. Das uniões infelizes geram filhos infelizes que carregam presos a si mesmas não por amor, mas pelo terror que podem gerar. Novas medusas. Se pela procura puderem chegar ao espelho, podem ser deusas, podem ser Pégasos, ou até mesmo Poesia uma das Musas; se não seguirão os seus destinos de mulheres- crianças gerando filhos que não podem amar e que no máximo lhes servem de brinquedo para suas brincadeiras cruéis de paralisar e aterrorizar pessoas. Seguem a saga da Medusa. Mulher que se torna monstro, pelo descuido de homem e pela crueldade de uma deusa.

 

Mas e as mulheres Medusa? O que lhes resta? O próprio mito nos mostra.

 

Perseu filho de Danae, mãe amorosa, que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terrível, que ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto. Trancados numa arca e atirados ao mar são salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquila onde são recolhidos por um pescador e levados ao rei Polidectis, que o educa amorosamente como filho. Perseu é filho de mãe amorosa, que tudo perde para seguir seu filho. Que abandonada por um homem, o próprio pai, atirada à morte por ele, não transforma isto em ódio à masculinidade. Perseu também. O seu abandono pelo avô e pelo pai que não o salva, é no entanto criado por um pai amoroso. Perseu e Danae são o oposto de Medusa. Não permitiram que a sua desgraça se transformasse em ressentimento para com a humanidade. Foram alcançados e salvos pelo amor humano. Ao contrário de Medusa, da qual ninguém pode se aproximar. Somente Perseu poderia destruir Medusa, ele pode ser visto exatamente como seu contrario no espelho, ela mulher, ele homem, ela ressentida, ele perdoando, ela sem possibilidade de resgate, ele salvo pelo amor da mãe que o acompanha, pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei. Tudo o que faltou a Medusa que precisa ser vista, no espelho, para poder ser destruída e libertar Pégaso. Medusa tem que ser compreendida para alem do seu aspecto monstro, como mulher-criança, frívola, presa a beleza passageira, desafiando a grande deusa, a inteligência, a quem desafia e a quem odeia. Para depois de morta servir a ela, Minerva, mesmo que seja como esfinge no seu escudo. Guiado pela inteligência e sabedoria de Minerva, que corrige o seu erro de ter criado um monstro, o olhar de Medusa agora é útil, tem aplicabilidade, destroi o inimigo. Já não mata os que ama.

 

Se a transferência não se realiza, se a relação terapêutica não se faz, e disse alguém que a terapia é uma função de amor, os filhos de Medusa verão no terapeuta a imagem dela e fugirão. Tudo estará perdido, o amor não poderá realizar seu resgate, e Medusa permanecerá eternamente viva destruindo e paralisando até que se destrua ou destrua seus filhos.

 

 


 

 

Marise de Souza Morais e Silva Santos

18 Jul, 2009

Rapunzel

Era uma vez um casal que há muito tempo desejava ansiosamente ter um filho. Os anos iam passando, e o sonho não se realizava. Um dia, a mulher percebeu que Deus ouvira suas preces. Ela ia ter uma criança!
Por uma janelinha que havia na parte dos fundos da casa do casal, era possível ver, no quintal vizinho, um magnífico jardim cheio das mais lindas flores e das mais viçosas hortaliças. Mas em torno de tudo se erguia um muro altíssimo, que ninguém se atrevia a escalar. Ali morava uma feiticeira muito temida e poderosa.
Um dia, quando espreitava pela janelinha, a mulher admirou-se ao ver um canteiro cheio dos mais belos pés de rabanete que jamais imaginara. As folhas eram tão verdes e fresquinhas que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de provar os rabanetes.
A cada dia o desejo dela aumentava mais. Mas sabia que não poderia satisfazer o desejo e por isso foi ficando triste, abatida e com um aspecto doentio, até que um dia o marido se apercebeu e perguntou:
— O que está acontecendo contigo, querida?
— Ah! — Respondeu ela. — Se não comer um rabanete do jardim da feiticeira, acho que vou morrer logo, logo!
O marido, que a amava muito, pensou: “Não posso deixar minha mulher morrer… Tenho que conseguir esses rabanetes, custe o que custar!”
Ao anoitecer, encostou uma escada no muro, pulou para o quintal vizinho, arrancou apressadamente um punhado de rabanetes e levou para a mulher. Mais que depressa, ela preparou uma salada que comeu imediatamente, deliciada. Ela achou o sabor da salada tão bom, mas tão bom, que no dia seguinte seu desejo de comer rabanetes ficou ainda mais forte. Para sossegá-la, o marido prometeu-lhe que iria buscar mais um pouco.
Quando a noite chegou, pulou novamente o muro mas, mal pisou no chão do outro lado, levou um tremendo susto: de pé, diante dele, estava a feiticeira.
— Como se atreve a entrar no meu quintal como um ladrão, para roubar os meus rabanetes? — Perguntou ela com os olhos cheios de fúria. — Vais ver só o que te espera!
— Oh! Tenha piedade! — implorou o homem. — Só fiz isso porque fui obrigado! A minha mulher está grávida e viu os seus rabanetes pela nossa janela, sentiu tanta vontade de comê-los, mas tanta vontade, que na certa morrerá se eu não levar alguns!
A feiticeira acalmou-se e disse:
— Se é assim como diz, deixo levar quantos rabanetes quiser, mas com uma condição: irá dar-me a criança que a sua mulher vai ter. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe, e nada lhe faltará.
O homem estava tão apavorado, que concordou. Pouco tempo depois, o bebê nasceu. Era uma menina. A feiticeira surgiu no mesmo instante, deu à criança o nome de Rapunzel e levou-a embora.
Rapunzel cresceu e tornou-se a mais linda criança sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira trancou-a no alto de uma torre, no meio da floresta.
A torre não possuía nem escada, nem porta: apenas uma janelinha, no lugar mais alto. Quando a velha desejava entrar, ficava em baixo da janela e gritava:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga as tuas tranças!
Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da feiticeira, abria a janela, enrolava-os em tranças e deixava-as cair pela torre abaixo. As tranças caíam vinte metros abaixo, e por elas, como se de cordas se tratassem a feiticeira subia.
Alguns anos depois, o filho do rei daquele reino, cavalgava  pela floresta e passou perto da torre. Ouviu um canto tão bonito que parou, encantado.
Rapunzel, para espantar a solidão, cantava para si mesma com sua doce voz.
Imediatamente o príncipe quis subir, procurou uma porta por toda parte, mas não encontrou. Inconformado, voltou para casa. Mas o maravilhoso canto tocara no seu coração de tal maneira, que ele começou a ir para a floresta todos os dias, querendo ouvi-lo outra vez.
Numa dessas vezes, o príncipe estava descansando atrás de uma árvore e viu a feiticeira aproximar-se da torre e gritar: “Rapunzel, Rapunzel! Deita para baixo as tuas tranças!”. E viu quando a feiticeira subiu pelas tranças.
“É essa a escada pela qual se sobe?”, pensou o príncipe. “Pois eu vou tentar a sorte…”.
No dia seguinte, quando escureceu, ele se aproximou da torre e, bem embaixo da janelinha, gritou:
— Rapunzel, Rapunzel! Deita para baixo as tuas tranças!
As tranças caíram pela janela abaixo, e ele subiu.
Rapunzel ficou muito assustada ao vê-lo entrar, pois jamais tinha visto um homem.
Mas o príncipe falou-lhe com muita doçura e contou como seu coração ficara transtornado desde que a ouvira cantar, explicando que não teria sossego enquanto não a conhecesse.

 

Rapunzel acalmou-se, e quando o príncipe lhe perguntou se o aceitava como marido, reparou que ele era jovem e belo, e pensou: “Ele é mil vezes mais bonito que a feiticeira ”. E, pondo a mão dela sobre a dele, respondeu:
— Sim! Quero ir contigo! Mas não sei como descer… Sempre que vieres ver-me trás uma meada de seda. Com ela vou fazer tranças, e quando ficar pronta, eu desço contigo.
Combinaram que ele viria sempre ao cair da noite, porque a feiticeira costumava vir durante o dia. Assim foi, os dois todos os dias se encontravam e amavam-se. Até que um dia Rapunzel, vendo como a velha senhora demorava a subir pela torre e chegava ali tão ofegante, com inocência, perguntou à feiticeira :
— Diga-me, senhora, como é que lhe custa tanto subir, enquanto o jovem filho do rei chega aqui num instantinho?
— Ah, menina ruim! — Gritou a feiticeira. — Pensei que te tinha isolado do mundo, e afinal anda a enganar-me!
Furiosa, agarrou Rapunzel pelos cabelos e esbofeteou-a. Depois, com a outra mão, pegou uma tesoura e tec, tec! Cortou as belas tranças, largando-as no chão.
A raiva e o ciúme era tanto, que de seguida, levou a menina para um deserto e abandonou-a ali, para que passasse todo o tipo de privações e sofrimento, e se apercebesse o quanto conforto lhe tinha proporcionado e a paga fora ingratidão.
Na tarde desse dia
em que Rapunzel foi expulsa, a feiticeira prendeu as longas tranças num gancho da janela e ficou à espera. Quando o príncipe veio e chamou: “Rapunzel! Rapunzel! Deita para baixo as tuas tranças!”, ela deixou as tranças caírem para fora e esperou.
Ao entrar pela janelinha da torre, o rapaz não encontrou a Rapunzel, mas sim a terrível feiticeira. Com um olhar chamejante de ódio, ela gritou-lhe louca de raiva:
— Ah, ah! Vieste buscar Rapunzel? Pois ela não está aqui! E nunca mais a verás!

 Ao ouvir isso, o príncipe ficou fora de si e desesperado, atirou-se pela janela. O jovem não morreu, mas caiu sobre espinhos que danificaram os seus olhos e ficou cego.
Desesperado e cego ficou preambulando pela floresta, alimentando-se apenas de frutos e raízes, sem fazer outra coisa do que chorar e caminhar sem sentido e orientação.
Passaram-se os anos. Um dia, por acaso, o príncipe chegou ao deserto onde  Rapunzel vivia, na maior tristeza, com os seus filhos gémeos, um menino e uma menina, que ali tinham nascido.
Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, o príncipe caminhou na direcção de Rapunzel. Assim que chegou perto, ela reconheceu-o e se atirou-se nos seus braços, a chorar.
Duas das lágrimas da moça caíram nos olhos dele e, no mesmo instante, o príncipe recuperou a visão e ficou de novo a ver.
Então, loucos de felicidade, os dois e as crianças, voltaram para o seu reino, onde foram recebidos com grande alegria e ali viveram felizes. Da feiticeira, não se soube mais nada, Talvez viva ali errando amargurada e trancada naquele muro onde crescem as mais lindas flores e hortaliças verdejantes.

 

 

 

 


conto dos irmãos Grimm, adaptado

 

"1- CORAGEM: Bem, coragem é mais que uma Virtude, é um principio. Dela se deriva o Valor, o Auto - Sacrifício , a Honra e a Verdadeira Espiritualidade. Se você não procurar ter coragem, não enfrentara nem conhecera seus próprios limites. Com Coragem e força, não só você conhecera realmente seus limites, mas com o tempo você poderá rompe-los e conhecer limites ainda maiores e poder caminhar para a perfeição e o Infinito. O Pior inimigo a se enfrentar não é externo, ele esta dentro de você. É mais fácil você enfrentar mil soldados inimigos do que enfrentar Seu próprio lado obscuro e confrontar sua Verdadeira Natureza.
Portanto Coragem é algo a se praticar externamente e internamente. Você só deve retroceder em uma batalha, seja ela de que natureza for, quando sua morte ou derrota não for construtiva para nada. Afinal "um Homem morto não é útil para ninguém." e "um sábio sabe as batalhas que realmente valem a pena ser disputadas." Ou seja, Coragem sim, mesmo que para enfrentar a Morte, mas Coragem sempre com Sabedoria.

2- VERDADE: A Verdade aqui também não é apenas uma Virtude, mas um Princípio. Em sua natureza Absoluta, Ela é o Principio de Tudo. Ela pode ser entendida como Honestidade, mas não é apenas isto. Dela se deriva a Honestidade, Justiça, Honra e Espiritualidade. Em Asatru, não temos o conceito de pecado, céu e inferno, bem e mal absolutos e outras coisas limitadoras do pensamento humano como estes conceitos abraãmicos. Temos um provérbio: "Se você acredita em inferno, provavelmente você já vive em um." Um Asatruar não procurara ser Honesto e Honrado para agradar aos Deuses, e sim para melhorar seu padrão e modo de Vida, e com isto, conquistar o respeito das pessoas a sua volta. Se você não for honesto, as pessoas tenderão a não confiar em sua palavra, não importa o quão gostem de você. Você não teria credito em nenhuma parte, afora que muitos não perderia seu tempo em respeita-lo.

3- HONRA: Nada melhor vem a minha cabeça para começar a falar sobre esse tópico interessante do que um velho provérbio Japonês muito usado pêlos Samurais na Interpretação de seu Bushidô. "Honra não é Orgulho. É Consciência do que se Tem." Muitas pessoas confundem honra com orgulho ou dignidade pessoal. Quanto ao orgulho, ele em si não é Honra, mas você pode ter Orgulho de Sua Honra de uma maneira positiva, sem que isso pareça arrogância. Dignidade pessoal? Honra também não é isto diretamente, embora ações honradas gerem por si só a Dignidade pessoal. Se você não age com Honra, você é indigno e obviamente (por uma questão de semântica) você não possui dignidade pessoal. Honra é jogar limpo (Fair-Play). A Virtude da Honra é formada pêlos Princípios de Verdade e Coragem. Verdade para admitir suas verdadeiras responsabilidades e Coragem para assumi-las.

4- FIDELIDADE: Ou Lealdade, se preferirem. Fidelidade não é apenas dar exclusividade sexual ao seu parceiro amoroso como assim já foi especulado. Você pode não dar exclusividade e ainda por cima ser fiel. Se você seguir todos estes princípios, você estará sendo fiel a eles. Você pode ser fiel a uma causa, pátria, pessoa ou religião. Ao meu ver, e ao ver das antigas culturas pagãs, exclusividade sexual não era prova de amor, nem era obrigatório em um casamento. O Ocidente tem a mania de rotular tipos de amor. Você ama seu pai? Você ama sua Mãe? Você ama a flor a qual aspiras o seu perfume? Você ama seu namorado ou namorada? Se a resposta for sim para todas, e a resposta for correta, saiba que o amor que você sente por todos estes itens citados é do mesmo tipo. Quando você ama, você quer o bem do que você ama, mesmo que em detrimento do seu. Se você ama um garoto ou garota, você quer que ele seja feliz contigo, sem você ou não só com você. Se você ama uma rosa, como você agiria? Você aspiraria seu perfume, se deliciaria com ele, regaria a roseira e adubaria seu solo ou você limitaria seu tempo de vida ainda mais cortando a pelo caule e colocando a em um vaso para enfeitar a sua sala para só você e quem você quiser, aspirar seu perfume e apreciar sua beleza até que ela definhe e morra? Porém, se o acordo do relacionamento foi de exclusividade, ai sim você não estaria sendo fiel a algo se você não desse exclusividade ao seu parceiro ou parceira. Agir corretamente de acordo com os princípios, sem se desviar deles é fidelidade, portanto, se você agir com coragem, verdade, honra e disciplina, você estaria sendo Fiel.

5- DISCIPLINA: (JUSTIÇA)O Universo provém do caos, portanto o caos é o elemento gerador da existência. Entretanto, se só houvesse o caos, o universo seria apenas um elemento em constante mudança, sem nada a ser criado ou estabilizado. Para tanto, para se contrapor ao caos, existe a Ordem que é o elemento estabilizador. Porém, se houver Ordem demais, acaba se gerando outro problema que é a estagnação. Para tanto, também há o principio da Entropia ou destruição, que elimina os excessos dos dois e "destroi o velho para que o novo possa nascer". É claro que destruição em excesso também não é nada interessante. Nem preciso explicar o porque, não? Equilibrar estas três forças seria Disciplina em uma visão cósmica, mas o que interessa e a Disciplina em um plano mais relativo e terreno. No nosso caso, Liberdade (caos) é interessante, liberdade absoluta, ainda mais, mas não podemos esquecer que vivemos em sociedade e para uma convivência salutar, é necessário limitar a liberdade de um aonde começa a liberdade de outro. Para tanto, é preciso se estabelecer regras ou Lei (Ordem). E quando estas são quebradas, é necessário usar de uma força disciplinar, destrutiva, quando preciso, para voltar a estabelecer a harmonia e a Justiça.

6- HOSPITALIDADE: Nada melhor para começar a falar sobre esta Virtude do que um Trecho do Havamal, as Palavras do Altíssimo.: "Fire is needed by the newcomer Whose knees are frozen numb;Meat and clean linen a man needs Who has fared across the fells" que em português quer dizer "Fogo é preciso para o recém - chegado, para aqueles joelhos que estão congelados até as juntas; Comida e roupas limpas um homem (aqui entenda se também as mulheres) que cruzou as colinas necessita." Assim, Você estará praticando Verdade, Coragem, fidelidade (pois você convidou, senão ele(a) não seria seu hospede), Justiça (igualmente, porque você o convidou e ele(a) cruzou colinas para te ver.) e como na virtude da Disciplina, para acrescentar algo que de a esta virtude sua individualidade, eu acrescentaria Compaixão que é baseada no Princípio do Amor. Mas Hospitalidade não é apenas Compaixão. Existem certas regras de hospitalidade as quais devem ser seguidas. O Havamal trata muito bem disso. Trata inclusive sobre como agir quando sob um eventual abuso de hospitalidade.

7- LABORIOSIDADE: Esta em si já gera as duas próximas Virtudes. Trabalhar com Labor significa produzir. O oposto desta Virtude justamente com a próxima seria o Parasitismo que é viver as custas dos outros, sem ao menos tentar colaborar com algo.
Você trabalhar duro para ganhar o seu pão e poder assim, usufruir dele e dos seus frutos. Para tanto é necessário Coragem, Perseverança e Sabedoria, pois com tantos aproveitadores neste mundo, a Sabedoria é necessária para se atingir a prosperidade.

8- INDEPÊNDENCIA: (AUTO CONFIANÇA) O termo original em inglês é "Self - Reliance" e quer dizer ambas as coisas. Mas a essência desta Virtude é a Liberdade e o desejo por ela de uma forma honrada. Se você age com liberdade mas parasita alguém sem sequer colaborar com nada para esta pessoa, você não estará praticando esta virtude. No sentido de Auto Confiança, se você confiar nos deuses e não confiar em si próprio, não serás capaz de nada. Vivemos em um pais de predominância Cristã e estamos acostumados a ver muitas pessoas viver a mediocridade de confiar em um suposto deus absoluto e responsabiliza-lo por tudo que da certo nas suas vidas se esquecendo de todas as ações acertadas que tomaram, esquecem que são um elemento de mudança do mundo de muita importância. Também responsabilizam um suposto diabo por suas atitudes errôneas fazendo assim o ato de lavar as mãos ou se omitindo de suas responsabilidades consigo próprios, com suas famílias e a sociedade. Esta virtude é justamente o oposto disso. Você e mais ninguém, é responsável por suas ações. E se você é independente, tens todo direito a sua Liberdade, portanto podemos interpretar essa virtude como Liberdade com um senso de auto responsabilidade por seus atos. A tradição Asatru valoriza mais do que tudo esta liberdade. Um regime de governo ideal para nós e nossa visão seria a Democracia Anárquica. Ou seja, se você não mete seu nariz (se intrometer) na vida de ninguém, ninguém tem o direito de se intrometer na sua vida.

9- PERSEVERANÇA: (Paciência)O que comentar sobre essa virtude que não foi comentado na nota sobre a Virtude e Principio da Coragem? Praticar perseverança é ter a coragem para enfrentar seus próprios limites e ir até o fim para se estabelecer e realizar suas metas. De certo não se pode atingir o topo de uma montanha com apenas um salto, a não ser que vc seja um Super -Homem(tm) ou pular tão alto quanto o Hulk (tm). Mas passo a passo, e um de cada vez, você pode atingir o topo da montanha, e quando atingi-lo, deve se lembrar que cada um dos pequenos passos dentre as centenas deles que você precisou dar para atingir este topo, foi igualmente importante, com exceção do primeiro passo. O primeiro foi o mais importante de todos, pois foi sua iniciativa e perseverança que o levara até lá."

http://www.fornsed-brasil.org/novevirtudes.html)



 

 

 

Psique era a mais nova das três filhas do rei de Mileto e era extremamente bela. A sua beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite.

Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou o seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a terra. Porém, Eros ao ver a sua beleza,  apaixonou-se profundamente.
O pai de Psique, suspeitando que, inadvertidamente, havia ofendido os deuses, resolveu consultar o oráculo de Apolo, porque as suas filhas encontraram maridos e, no entanto, Psique permanecia sozinha. Através do oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse Psique para o topo de uma solitária montanha, Lá seria dada como esposa a uma serpente.

  

  A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e deixada ali sozinha.

Conformada com o seu destino, Psique adormeceu num sono profundo. Enquanto dormia foi conduzida pela brisa gentil de Zéfiro para um lindo vale.
Quando acordou, sem saber onde estava, caminhou por entre as flores, até chegar a um castelo magnífico. Surpreendida pensou que ali deveria morar um deus, tal era beleza do castelo.

Enchendo-se de coragem, entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos foram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz

Quando anoiteceu, aqueles ajudantes invisíveis disseram-lhe que deveria ir para o seu quarto, ela assustou-se, ciente de que ali se deveria encontrar a tal serpente que lhe era destinada como esposo. Sentiu entrar alguém no quarto e começou a tremer, no entanto, uma voz maravilhosa acalmou-a e de seguida sentiu umas mãos ternas a acaricia-la e entregou-se ao prazer que sentia.

De manhã quando acordou estava sozinha, não ouvia nenhuma voz, nem se sentiu acariciada.

As irmãs de Psique que souberam o paradeiro de Psique, tinham ido à montanha visita-la, e gentilmente, a brisa Zéfiro ergueu-as no ar e levou-as para o lindo vale, onde havia um magnífico castelo. Bateram à porta do castelo para visita-la, mas Psique não estava autorizada para deixar entrar as irmãs no castelo, o seu amante misterioso, dissera-lhe que ela não as devia receber. A jovem sentia saudades dela e depois de tanta insistência, a voz misteriosa acedeu ao pedido de Psique, mas com a condição de que ela não deveria tentar conhecer qual a identidade dele, mesmo que as irmãs o insinuassem e a tentassem.


Finalmente Psique pôde abraçar as irmãs, que ficaram cheias de inveja, quando viram como era deslumbrante e maravilhoso o interior do castelo. Perguntaram-lhe pelo esposo e quando é que ele aparecia e cheias de malícia questionaram-na pela aparência física dele. Psique sentiu que a curiosidade delas era a sua e sentiu crescer dentro, o desejo de realmente o conhecer.

À noite o amante alertou-a para que não ouvisse as suas irmãs, pois isso lhe aguçaria o desejo de conhecer o seu rosto e se ela o fizesse jamais o teria novamente. Disse-lhe também que o filho de ambos que crescia no ventre dela seria divino se ela mantivesse o pedido dele, de outra forma seria um mortal.

Ao receber novamente as suas irmãs, Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem divina. As irmãs ficaram ainda com mais inveja, além de todas aquelas riquezas, entenderam também que ela era a esposa de um lindo deus. Assim, trataram de convencer a jovem a saber quem era o seu esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso.
Psique assustou-se e, escondeu uma faca e uma lâmpada próximo, pensou se aquela voz tão maravilhosa, poderia pertencer a uma serpente e decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, ela sentiu terror e se assim fosse queria mata-lo.

A noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. Para sua surpresa, o que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado.

                                                        


Enfeitiçada pela sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o.

Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:
- "Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido às ordens da minha mãe e de te ter tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs. Não te imponho outro castigo, além de te deixar para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita."

 Psique sentiu-se gelada por dentro e chorou copiosamente, quando se recompôs, o lindo castelo à sua volta desaparecera, e encontrou-se próxima da casa de seus pais.

Inconsolável, tentou suicidar-se e atirou-se para as águas profundas de um rio próximo, mas as suas águas  trouxeram-nas gentilmente para a sua margem. Foi então alertada por Pan para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros.

As irmãs de Psique, fingiram pesar, mas levadas pela inveja partiram para a montanha, pensando em conquistar o amor de Eros. Lá, chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as ergueram no céu, e elas caíram no despenhadeiro e morreram.

Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, procurou-o por todos os lugares da terra, de dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu um amontoado desordenado  de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, organizando as coisas nos lugares. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:
- "Ó Psique, não posso livrar-te da ira de Afrodite, mas posso ensinar-te a fazê-lo com as tuas próprias forças: vai ao seu templo e rende a ela as homenagens que ela, como deusa, merece."


 Psique dirigiu-se ao tempo de Afrodite, que ao vê-la no seu templo, não escondeu a sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal o seu filho tinha desobedecido às suas ordens e agora ele estava  doente, na cama recuperando-se da ferida que a jovem lhe tinha causado. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs-lhe uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar a morte a jovem.

 A primeira tarefa era, antes de anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou o seu exército para isolar cada uma das qualidades de grão.
Como segunda tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar a sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte,

atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.
A terceira tarefa seria subir ao topo de uma montanha muito alta e trazer para Afrodite uma jarra cheia da água escura que jorrava de seu cume. No cume da montanha, Psique enfrentou, um dragão que guardava a fonte. Uma águia, que voou baixa, próximo à fonte  encheu a jarra com a negra água.

 

 

Cheia de raiva com o sucesso da jovem, Afrodite ordenou-lhe uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco da sua beleza, que deveria guardar numa caixa. Psique entrou em desespero, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre porém murmurou-lhe instruções de como encontrar numa particular caverna para alcançar o reino de Hades. Ensinou-lhe ainda como fintar os diversos perigos que iria defrontar-se, como passar pelo cão Cérbero e deu-lhe uma moeda para pagar a Caronte pela travessia do rio Estige, advertindo-a:
- "Quando Perséfone te der a caixa com a sua beleza, toma cuidado, o maior que todas as outras coisas, não olhes para dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais."

Seguindo essas palavras, Psique conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente no seu trono e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade, quando voltava, abriu a caixa para espreitar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que imediatamente se apossou dela.


Eros, curado da ferida, voou ao socorro de Psique e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, salvando-a.
Lembrou-lhe novamente que sua curiosidade havia novamente sido a sua grande falta, mas que agora podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa.

Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus e implorou a ele que apaziguasse a ira de Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psique. Atendendo o seu pedido, o grande deus do Olimpo ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembleia dos deuses e a presenteassem com uma taça de ambrosia. Então com toda a pompa e cerimónia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu filho, chamado Voluptas (Prazer).

 

16 Jul, 2009

Édipo - o mito

Os mitos gregos estão por toda parte ainda hoje.Estas narrativas, que um dia povoaram não só a imaginação como também a vida quotidiana de todo
um povo, perduraram no tempo e ainda hoje fascinam escritores, cineastas, escultores, psicólogos,antropólogos, etc. etc. Pode-se fazer delas o uso
mais variado, mas é curioso que guardam, em si mesmas e por si mesmas, um interesse inabalável para os leitores comuns, pessoas que sempre sentirão prazer em mergulhar na poesia de deuses nada perfeitos, cheios de defeitos muito humanos, ninfas que definham de amor por mortais, heróis que
redimem a humanidade, vozes encantadoras de sereias, monstros brutos de um olho só, derrotados pela inteligência do homem. Os estudiosos podem
tentar analisar os mitos como forma primitiva de explicação racional do universo, como ciência ingénua e rudimentar; outros podem vê-los como
projecção de nossa vida inconsciente, etc. — o mito sobrevive a qualquer tentativa reducionista de enquadrá-lo em termos que não são os seus, reduzi-lo a alguma “chave” que supostamente o desvende — ele sobrevive inatingível, com o impacto de sua força narrativa. “O mito é o nada que é tudo”, já disse Fernando Pessoa, criador de mitos, como todos os poetas.

 

Paulo Sérgio de Vasconcellos in Mitos Gregos




 Édipo era filho de Laio e de Jocasta, herdeiro da maldição que assolava os Labdácias, foi abandonado ao nascer no Monte Citerão. O Deus Apolo havia predistinado que Laio seria morto pelo seu próprio filho.

Assim quando Jocasta deu à luz  um filho, encarregaram um criado de o deixar morrer. O criado, encarregado de executar essa missão perfurou-lhe os pés com um gancho e suspendeu a criança numa árvore.

Uns pastores que passavam no lugar viram o menino sangrando dos pés e pendurado numa árvore, cheios de pena tiraram-no e levaram-no aos reis. Os reis de Corinto, Pólibo e Peribeía, há muito que ansiavam por um herdeiro e até ao momento a natureza não lhes tinham sido favoráveis. Assim ao ver o bebé decidiram adoptá-lo e deram-lhe o nome de Édipo porque ele tinha os pezinhos muito inchados.

 

Édipo que foi crescendo, em graça, coragem, valentia e beleza, nada sabia das suas origens. Já era então um belo jovem, e um dia participando num banquete, um outro jovem coríntio, já levemente embriagado, referiu que ele não era filho biológico de seus pais, mas sim adoptado.

 

Édipo perguntou aos pais, que prontamente negaram, mas cheio de dúvidas, resolve consultar o oráculo de Delfos para saber sua real origem. Delfos não lhe deu uma resposta clara, mas disse-lhe o seu futuro, vaticinou que um dia mataria o seu pai e que tomaria como esposa a sua mãe.  

 

Desesperado com a revelação, decidiu fugir do reino, deixando Pólibo e Peribeía, que pensava serem os seus pais verdadeiros, estava certo de contrariar aquele destino cruel.

Viajando a caminho da Fócida, num cruzamento entre as estradas de terra de Tebas e de Cáulius, foi mandado retirar-se do caminho por um arauto que viajava numa carruagem com mais três pessoas, sentindo-se incomodado com tal desfaçatez e arrogância, recusou-se a sair do caminho. Como represália um daqueles homens matou um dos seus cavalos, Édipo cheio de ódio, pegou na sua bengala e matou com grande violência, o rei de Tebas, Laio, desconhecendo por completo quem havia matado.

 

E continuou o caminho, indo parar a Tebas.

Quando ali chegou, precisamente na entrada da cidade, no grande Monte Ficeu,  deparou com uma Esfinge, descendente de uma família de monstros, cabeça e busto de mulher, patas de leão, o corpo de cão, cauda de dragão e asas como as das Hárpias.

 

 Tinha sido enviada pela deusa Hera para castigar Laio, responsável pela morte de Crísipo.  

 

Assim para se poder entrar na cidade de Tebas, todos os forasteiros tinham que responder a um enigma da Esfinge, quem não soubesse responder era morto, caso contrário a Esfinge morreria. A criatura além de matar quem não soubesse decifrar o enigma, também devorava os seus corpos.

O monstro já tinha feito muitas vítimas e os habitantes estavam alarmados quando Édipo, buscando exílio, chegou a Tebas. Ao enfrentá-la, foi recebido com a seguinte pergunta: “Qual é o animal que pela manhã tem quatro pés, ao meio dia dois e à tarde três?” Édipo sem dificuldade respondeu que este animal era o homem, que na infância engatinha, depois passa a caminhar com os dois pés e na velhice, com o peso dos anos, necessita de uma bengala, ou seja, de uma terceira perna para se sustentar. Como já estava previsto pelo destino, no dia que alguém soubesse decifrar o seu enigma a Esfinge morreria, esta, precipitou-se do alto de um precipício e morreu despedaçando o seu mutante corpo contra os rochedos.

Aclamado pela população agradecida, tornou-se rei, e como era costume naqueles tempos, recebeu a mão da rainha Jocasta em casamento.

 Édipo cumpriu assim a segunda e última parte da profecia, pois ao casar-se com a rainha, desposava na verdade,a sua própria mãe. Tiveram quatro filhos: Etéocles, Polinice, Antígona e Ismena.

Durante anos o rei de Tebas reinou tranquilamente até ao dia em que em Tebas teve uma epidemia de peste.

Para se livrarem da epidemia consultaram o oráculo, que previu que para cessar a epidemia, era preciso que se encontrasse o assassino de Laio e bani-lo definitivamente de Tebas. Tirésias, o grande vidente cego, trazido até a corte revelou a verdade sobre o crime e esclareceu a identidade e a história de Édipo. Jocasta, humilhada e sem poder suportar a vergonha, suicidou-se. Édipo, ao lado do corpo de sua mãe, vazou seus olhos. Expulso da cidade por Etéocles e Polinice, partiu para o exílio acompanhado por Antígona que o guiou até a Ática, onde foi acolhido por Teseu .

 

Tempos depois, seus filhos e Creonte, irmão de Jocasta, tentaram convencê-lo de regressar à Tebas, pois um oráculo havia predito que onde estivesse localizada sua tumba, os deuses dedicariam especial proteção. Foi inútil, porque Édipo, recusou-se terminantemente a realizar-lhes o desejo e viveu seus últimos dias em Colona, localidade situada próximo a Atenas.


Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

 

Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega em sono onde ela mora.

E, inda tonto do que houvera,

à cabeça a maresia,

e vê que ele mesmo era

A princesa que dormia.

Ferrnando Pessoa